domingo, 27 de outubro de 2013

Entrevista - Mata Atlântica



MATA ATLÂNTICA ABRIGA UMA DAS MAIORES DIVERSIDADES DO MUNDO
Entrevista com Mario Mantovani
por Bruna Souza

Dia 27 de maio é o Dia da Mata Atlântica.
A data marca a necessidade de barrar o desmatamento, recuperar o que foi degradado e ampliar o número de áreas protegidas, públicas e privadas.

Para esclarecer nossas dúvidas sobre esse assunto o diretor de políticas públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, Mario Mantovani, nos concedeu uma entrevista. Confira.

1 - A SOS Mata Atlântica luta pela preservação há mais de vinte anos. Temos motivos para comemorações ou estamos em estado de alerta?
Hoje nós temos motivos para comemoração. Mesmo tendo uma cultura de degradação no País, ainda temos motivos para comemorar. Conseguimos uma das legislações ambientais mais fantásticas do mundo.
Também temos motivos que variam na história da Fundação SOS Mata Atlântica, desde colocar a Mata Atlântica na pauta até construir o conceito de Mata Atlântica com a sociedade, com a regulamentação de um processo educativo, esse conceito que hoje a população internalizou é todo uma grande conquista e uma grande vitória, por isso temos muito o que comemorar.

2- A Mata Atlântica originalmente cobria o equivalente a 15% do território do Brasil. Hoje está reduzida a 1% deste total. É possível reverter essa situação?
Se não degradarmos mais é possível que ainda tenhamos esse um 1% de Mata Atlântica. É certo que não vamos ter nunca mais aquela mata original. Hoje convivemos com a floresta no limite, a Mata Atlântica é quase com um doente terminal e nós ainda precisamos recuperar esse doente terminal. Mas, por exemplo, é possível recuperarmos para termos as nascentes e para termos mais qualidade de vida, regularização do clima, tudo que fizermos para restaurar. Já que chegamos no limite da degradação, vai ser importante e vai ajudar a recuperar

3 - Nas regiões que ainda existe a Mata Atlântica quais estão em melhores condições de preservação?
Hoje, por incrível que pareça é o Vale do Ribeira - SP, que tem a maior área continua de Mata Atlântica preservada do Brasil, é uma faixa que vai de Peruíbe até o alto do Petar, incrível por estar tão perto de São Paulo.

4 - A Biodiversidade da Mata Atlântica é uma das maiores do Planeta. Ainda assim é difícil criar uma conscientização?
É lógico que é difícil porque as pessoas não entendem o que é biodiversidade. Biodiversidade não é coisa que se compra no supermercado, biodiversidade não está na televisão nos horários que costumamos ver, biodiversidade está no DNA de nossa vida. Nos também somos uma parte desta natureza, desde um pequeno verme até o topo de uma cadeia alimentar, nós somos uma partezinha dela. E o mais interessante é que nós nos excluímos, olhamos para a biodiversidade como se ela fosse ‘daqui para lá’, e não é assim, como somos parte, isso é difícil de entender.
E enquanto não fazermos as pessoas entenderem que a biodiversidade está no nosso dia a dia, nós não vamos conseguir fazer as pessoas entenderem como é importante a Mata Atlântica, com tudo o que ela tem, nós ainda não conseguimos fazer as pessoas entenderem o quão importante ela é. Temos esse distanciamento, que chega a ser um crime, um distanciamento de uma ignorância que mostra como nós somos frágeis nesse elo da cadeia, e perceber que uma espécie que se extingue acaba por interferir diretamente em nosso cotidiano e acabamos por nos extinguir também.
Então é um desafio para nós tentarmos fazer a sociedade entender e trabalhar esta questão.

5 – Quais são os métodos de atuação da Fundação SOS Mata Atlântica para proteger e preservar a Mata Atlântica? E os recursos para tudo isso?
Usamos como maior método a informação, como fazermos com os dados do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, que mostramos para a sociedade o quanto de Mata Atlântica foi desmatado num determinado período e região; ou como o projeto A Mata Atlântica é aqui – exposição itinerante do cidadão atuante, um caminhão totalmente adaptado que já viajou por mais de 40 cidades brasileiras para conscientizar a população sobre a importância da Mata Atlântica ou como o Viva a Mata.


6 - Qual a forma de educação ambiental mais eficiente para as crianças e jovens?
Não existe uma fórmula que você pode dizer que é a mais eficiente ou não. A mais eficiente é aquela que você vivencia, como o método do Paulo Freire – você obter um método gerador. Nada como uma visita em um lugar bacana, e mesmo que seja um lixão, nada como a criança ou o adolescente vivenciar essa realidade, essa vivência o faz entender como as pessoas tratam a natureza. Se esse jovem conhecer na prática o que é unidade de conservação (UCs), como a da Juréia em São Paulo, muito melhor do que ficarmos explicando o que é uma UC. Vivenciar a questão ambiental é o melhor caminho.

7 - Com tantos problemas como podemos encontrar alternativas para as cidades e não ficar sempre em um jogo de empurra de responsabilidades?
O caminho é você formar, assim é muito fácil. Não é só o ambientalista de carteirinha ficar falando, é importante que conheçam as questões ambientais todas as organizações da sociedade como associações de moradores, sindicatos, escolas, a igreja, quando todo mundo estiver atento as questões ambientais e da importância da qualidade de vida nas cidades, onde vivemos no limite do stress, do trânsito, da segurança, da falta de saneamento, de todos os problemas que é viver numa cidade. Então, quando todo mundo estiver conscientizado que a importância também é nossa, talvez agente consiga fazer com que melhore a qualidade de vida de todos nós. Porque hoje é comum as pessoas empurrarem a culpa para o governo, para a prefeitura, para a Sabesp, nunca é a gente. Ah não passa coleta seletiva na minha casa, mas eu não levo meu lixo em uma coleta voluntária, é sempre essa coisa. Mas se tivermos esses segmentados organizados envolvidos com o tema, teremos muito mais chance de virar esse jogo e termos as cidades com muito mais qualidade de vida.

8 - Podemos ver uma luz no fim do túnel para a preservação da Mata Atlântica?
Acho que sim, sempre tem uma luz no fim do túnel. Hoje sou muito mais otimista que antigamente e acho que estamos alcançando resultados satisfatórios quando temos organizações como a SOS Mata Atlântica, as pessoas se engajando em temas, não estou dizendo apenas da Fundação, mas se você gosta de música, de arte, de ciência, o importante é fazer algo para o bem, em prol do meio ambiente. E estamos vendo isso acontecer de forma natural, nas escolhas; nos supermercados, as pessoas estão buscando os produtos mais verdes. E tudo isso faz parte de uma reação do que era um lugar comum da degradação, é possível sim, essa luz está muito mais próxima do que nós pensávamos.

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