MATA ATLÂNTICA ABRIGA UMA DAS MAIORES
DIVERSIDADES DO MUNDO
Entrevista com Mario Mantovani
por
Bruna Souza
Dia 27 de
maio é o Dia da Mata Atlântica.
A data marca
a necessidade de barrar o desmatamento, recuperar o que foi degradado e ampliar
o número de áreas protegidas, públicas e privadas.
Para
esclarecer nossas dúvidas sobre esse assunto o diretor de políticas públicas da
Fundação SOS Mata Atlântica, Mario Mantovani, nos concedeu uma entrevista.
Confira.
1 - A SOS Mata Atlântica luta pela
preservação há mais de vinte anos. Temos motivos para comemorações ou estamos
em estado de alerta?
Hoje nós
temos motivos para comemoração. Mesmo tendo uma cultura de degradação no País,
ainda temos motivos para comemorar. Conseguimos uma das legislações ambientais
mais fantásticas do mundo.
Também temos
motivos que variam na história da Fundação SOS Mata Atlântica, desde colocar a
Mata Atlântica na pauta até construir o conceito de Mata Atlântica com a
sociedade, com a regulamentação de um processo educativo, esse conceito que
hoje a população internalizou é todo uma grande conquista e uma grande vitória,
por isso temos muito o que comemorar.
2- A Mata Atlântica originalmente
cobria o equivalente a 15% do território do Brasil. Hoje está reduzida a 1%
deste total. É possível reverter essa situação?
Se não
degradarmos mais é possível que ainda tenhamos esse um 1% de Mata Atlântica. É
certo que não vamos ter nunca mais aquela mata original. Hoje convivemos com a
floresta no limite, a Mata Atlântica é quase com um doente terminal e nós ainda
precisamos recuperar esse doente terminal. Mas, por exemplo, é possível recuperarmos
para termos as nascentes e para termos mais qualidade de vida, regularização do
clima, tudo que fizermos para restaurar. Já que chegamos no limite da
degradação, vai ser importante e vai ajudar a recuperar
3 - Nas regiões que ainda existe a
Mata Atlântica quais estão em melhores condições de preservação?
Hoje, por
incrível que pareça é o Vale do Ribeira - SP, que tem a maior área continua de
Mata Atlântica preservada do Brasil, é uma faixa que vai de Peruíbe até o alto
do Petar, incrível por estar tão perto de São Paulo.
4 - A Biodiversidade da Mata Atlântica
é uma das maiores do Planeta. Ainda assim é difícil criar uma conscientização?
É lógico que
é difícil porque as pessoas não entendem o que é biodiversidade. Biodiversidade
não é coisa que se compra no supermercado, biodiversidade não está na televisão
nos horários que costumamos ver, biodiversidade está no DNA de nossa vida. Nos
também somos uma parte desta natureza, desde um pequeno verme até o topo de uma
cadeia alimentar, nós somos uma partezinha dela. E o mais interessante é que
nós nos excluímos, olhamos para a biodiversidade como se ela fosse ‘daqui para
lá’, e não é assim, como somos parte, isso é difícil de entender.
E enquanto
não fazermos as pessoas entenderem que a biodiversidade está no nosso dia a
dia, nós não vamos conseguir fazer as pessoas entenderem como é importante a
Mata Atlântica, com tudo o que ela tem, nós ainda não conseguimos fazer as
pessoas entenderem o quão importante ela é. Temos esse distanciamento, que
chega a ser um crime, um distanciamento de uma ignorância que mostra como nós
somos frágeis nesse elo da cadeia, e perceber que uma espécie que se extingue
acaba por interferir diretamente em nosso cotidiano e acabamos por nos
extinguir também.
Então é um
desafio para nós tentarmos fazer a sociedade entender e trabalhar esta questão.
5 – Quais são os métodos de atuação da
Fundação SOS Mata Atlântica para proteger e preservar a Mata Atlântica? E os
recursos para tudo isso?
Usamos como
maior método a informação, como fazermos com os dados do Atlas dos
Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, que mostramos para a sociedade o
quanto de Mata Atlântica foi desmatado num determinado período e região; ou
como o projeto A Mata Atlântica é aqui – exposição itinerante do cidadão
atuante, um caminhão totalmente adaptado que já viajou por mais de 40 cidades
brasileiras para conscientizar a população sobre a importância da Mata
Atlântica ou como o Viva a Mata.
6 - Qual a forma de educação ambiental
mais eficiente para as crianças e jovens?
Não existe
uma fórmula que você pode dizer que é a mais eficiente ou não. A mais eficiente
é aquela que você vivencia, como o método do Paulo Freire – você obter um
método gerador. Nada como uma visita em um lugar bacana, e mesmo que seja um
lixão, nada como a criança ou o adolescente vivenciar essa realidade, essa
vivência o faz entender como as pessoas tratam a natureza. Se esse jovem
conhecer na prática o que é unidade de conservação (UCs), como a da Juréia em
São Paulo, muito melhor do que ficarmos explicando o que é uma UC. Vivenciar a
questão ambiental é o melhor caminho.
7 - Com tantos problemas como podemos
encontrar alternativas para as cidades e não ficar sempre em um jogo de empurra
de responsabilidades?
O caminho é
você formar, assim é muito fácil. Não é só o ambientalista de carteirinha ficar
falando, é importante que conheçam as questões ambientais todas as organizações
da sociedade como associações de moradores, sindicatos, escolas, a igreja,
quando todo mundo estiver atento as questões ambientais e da importância da
qualidade de vida nas cidades, onde vivemos no limite do stress, do trânsito,
da segurança, da falta de saneamento, de todos os problemas que é viver numa
cidade. Então, quando todo mundo estiver conscientizado que a importância
também é nossa, talvez agente consiga fazer com que melhore a qualidade de vida
de todos nós. Porque hoje é comum as pessoas empurrarem a culpa para o governo,
para a prefeitura, para a Sabesp, nunca é a gente. Ah não passa coleta seletiva
na minha casa, mas eu não levo meu lixo em uma coleta voluntária, é sempre essa
coisa. Mas se tivermos esses segmentados organizados envolvidos com o tema,
teremos muito mais chance de virar esse jogo e termos as cidades com muito mais
qualidade de vida.
8 - Podemos ver uma luz no fim do
túnel para a preservação da Mata Atlântica?
Acho que sim,
sempre tem uma luz no fim do túnel. Hoje sou muito mais otimista que
antigamente e acho que estamos alcançando resultados satisfatórios quando temos
organizações como a SOS Mata Atlântica, as pessoas se engajando em temas, não
estou dizendo apenas da Fundação, mas se você gosta de música, de arte, de
ciência, o importante é fazer algo para o bem, em prol do meio ambiente. E
estamos vendo isso acontecer de forma natural, nas escolhas; nos supermercados,
as pessoas estão buscando os produtos mais verdes. E tudo isso faz parte de uma
reação do que era um lugar comum da degradação, é possível sim, essa luz está
muito mais próxima do que nós pensávamos.